Castiçais:
Esta história eu inventei somente para mim por que estava cansada de
viver a minha própria. Inventei uma noite em que eu esperava você de cabelo
molhado em que enxugava meu passado na mesa de madeira encerada e cheirosa.
Comprei dois castiçais numa feirinha qualquer., um preto e o outro vermelho. Os
dois se casaram tão bem...
A
chuva caia lá fora e era a canção mais assombrosa e feliz que alguma vez já
ouvira. Você tocou a minha campanhia e eu abri a porta de roupão. Você trazia uma
ramo vermelho de flores e um vinho frutado. Tomamos ele numa taça balão bem
grande e falamos sobre as nossas vidas. Abri a janela para que sentíssemos a
pureza fria do vento juntos. Você me olhava na escuridão clara da lua que
perfilhava o seu rosto como uma pintura cheia de texturas indecifráveis. Senti
aquele arrepio louco que há muito tempo não sentia na espinha e no estômago a
correr até o coração.Senti uma droga escorregar pelos meus pulsos. Vontade de
beijar a tua boca e conversar ao mesmo tempo. Vontade de te escutar a noite
inteira e de te fazer me ouvir.
Deliciosamente engolir a tua quente
respiração.Vontade de me abstrair do mundo todo e abrir as minhas cochas sem
medo de ser feliz. De enfiar meus dedos na minha vagina e perfurar a minha
vergonha matuta. Eu abri as minhas pernas, sem medo mesmo, porque era a minha
oportunidade de fazê-lo naquele momento, porque esta era a história que eu
inventei para mim e daí eu podia fazer tudo que eu quisesse. Tudo mesmo. Eu
abri as pernas e estava sem calcinhas. Eu te reinventei louro e tinha os cabelos
pela metade dos ombros. Escrevi você me agarrando com uma força
milimetricamente medida. Uma força macia que massajava a minha tesão. Então a
gente fez amor, fizemos sexo, fizemos paixão, fizemos aventura. Fizemos de
tudo. Até Dançar encaixados, pénis e vagina.
Nós dançamos e tudo teu dançou
dentro de mim. Bossa nova no meu clítores, rock holl nos meus pelos púbicos, bolero
na minha bunda, tango nas minhas virilhas, lambada nos meus quadris, carnaval no
meu corpo inteiro.
Beijo na boca, tanto beijo na boca a gente deu até a
minha língua ficar dormente. Beijo molhado, seco, duplo, com gelo, sem gelo,
quente, beijo de tudo quanto era jeito. Puxão de cabelo, chamêgo. Tudo ali
naquela sala a gente fez.
Eu vivi tudo isso nesta história que eu inventei. Traí
meio mundo. Bebi sem me embebedar quatro garrafas de vinho. Comi e comi-te sem me
estafar. Dormi nos teu braços ao cansaço do sabor da vitória. Acordei de toda esta
loucura quando vesti novamente o meu roupão e parei de escrever iluminada pelos
dois castiçais comprados numa feirinha qualquer e com meus dois dedos húmidos.
(Excerto Estória das histórias de Julianna de La Strada escrito por Marcella Reis / desenho de Marcella Reis)
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