sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012



Castiçais:

 
   Esta história eu inventei somente para mim por que estava cansada de viver a minha própria. Inventei uma noite em que eu esperava você de cabelo molhado em que enxugava meu passado na mesa de madeira encerada e cheirosa. Comprei dois castiçais numa feirinha qualquer., um preto e o outro vermelho. Os dois se casaram tão bem...
A chuva caia lá fora e era a canção mais assombrosa e feliz que alguma vez já ouvira. Você tocou a minha campanhia e eu abri a porta de roupão. Você trazia uma ramo vermelho de flores e um vinho frutado. Tomamos ele numa taça balão bem grande e falamos sobre as nossas vidas. Abri a janela para que sentíssemos a pureza fria do vento juntos. Você me olhava na escuridão clara da lua que perfilhava o seu rosto como uma pintura cheia de texturas indecifráveis. Senti aquele arrepio louco que há muito tempo não sentia na espinha e no estômago a correr até o coração.Senti uma droga escorregar pelos meus pulsos. Vontade de beijar a tua boca e conversar ao mesmo tempo. Vontade de te escutar a noite inteira e de te fazer me ouvir. 
Deliciosamente engolir a tua quente respiração.Vontade de me abstrair do mundo todo e abrir as minhas cochas sem medo de ser feliz. De enfiar meus dedos na minha vagina e perfurar a minha vergonha matuta. Eu abri as minhas pernas, sem medo mesmo, porque era a minha oportunidade de fazê-lo naquele momento, porque esta era a história que eu inventei para mim e daí eu podia fazer tudo que eu quisesse. Tudo mesmo. Eu abri as pernas e estava sem calcinhas. Eu te reinventei louro e tinha os cabelos pela metade dos ombros. Escrevi você me agarrando com uma força milimetricamente medida. Uma força macia que massajava a minha tesão. Então a gente fez amor, fizemos sexo, fizemos paixão, fizemos aventura. Fizemos de tudo. Até Dançar encaixados, pénis e vagina. 
Nós dançamos e tudo teu dançou dentro de mim. Bossa nova no meu clítores, rock holl nos meus pelos púbicos, bolero na minha bunda, tango nas minhas virilhas, lambada nos meus quadris, carnaval no meu corpo inteiro. 
Beijo na boca, tanto beijo na boca a gente  deu até a minha língua ficar dormente. Beijo molhado, seco, duplo, com gelo, sem gelo, quente, beijo de tudo quanto era jeito. Puxão de cabelo, chamêgo. Tudo ali naquela sala a gente fez. 
Eu vivi tudo isso nesta história que eu inventei. Traí meio mundo. Bebi sem me embebedar quatro garrafas de vinho. Comi e comi-te sem me estafar. Dormi nos teu braços ao cansaço do sabor da vitória. Acordei de toda esta loucura quando vesti novamente o meu roupão e parei de escrever iluminada pelos dois castiçais comprados numa feirinha qualquer e com meus dois dedos húmidos.

 (Excerto Estória das histórias de Julianna de La Strada escrito por Marcella Reis / desenho de Marcella Reis)









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